Quero escrever sobre ontem,

Quero escrever sobre teu olhar

ardente,

penetrante,

suplicante.

Mistura de prazer,

adrenalina

e medo de sermos pegos.

Quero escrever sobre ontem,

Quero escrever sobre tua boca 

quente

que me beija,

me lambe,

me assanha,

me ganha.

Quero escrever sobre ontem,

Quero escrever sobre sua voz rouca

sussurrando obscenidades

urrando de vontade.

Quero escrever sobre ontem,

Quero escrever sobre suas mãos

me prendendo a ti com firmeza,

guiando-me com destreza.

Sobre seu toque

causador de arrepios, 

ladrão da razão. 

Sobre mãos que por vezes 

abafaram meu tesão.

Quero escrever sobre ontem

sem pudores,

sem medos,

sem discrição,

sem censura.

Apenas, pele, carne, corpo

a minha boca, e a sua.

- DG

Eu entendo o feminismo

quando tenho medo de sair de casa sozinha.

Eu entendo o feminismo quando me vejo tentada a aprender golpes de defesa pessoal.

Eu entendo o feminismo quando sinto meu coração acelerar ao ver um grupo de homens se aproximar (e não, não é paixão).

Eu entendo o feminismo quando não posso mostrar a pele sem ser vista como um pedaço de carne.

Eu entendo o feminismo quando não posso dançar despreocupada sem passar a impressão de estar “me oferecendo”.

Eu entendo o feminismo quando a sociedade tenta tratar e treinar a vítima, ao invés de conter o agressor.

Eu entendo o feminismo quando vejo mulheres sendo menosprezadas e consideradas menos capazes intelectualmente apenas por serem bonitas demais.

Eu entendo o feminismo quando estou andando numa rua escura, me deparo com outra mulher e percebo o alívio que transmitimos uma para a outra por sermos nós ali, e não um cara.

Eu entendo o feminismo quando estou dirigindo e recebo olhares de escárnio que me julgam inferior.

Eu entendo o feminismo quando não posso dizer que gosto de sexo sem receber em troca mil olhares de reprovação.

Eu entendo o feminismo quando ouço “menina não deve falar/agir assim”.

Eu entendo o feminismo quando brado que mulher pode sim! Pode ser, pode pensar e pode fazer! 

DG